OBRIGADA

Agradecemos pela estreia das na temporada on-line via Sesc Campinas!

Cantar, fazer e espalhar música, para mim são ferramentas de transformação. 

São sempre mais do que parecem.

Fazer uma sequência de aulas-espetáculo não foi, para mim, só fazer uma sequência de shows-misturados-com-aula-de-interpretação.

Criei os shows na sede de trazer mais profundeza para o já TÃO cansativo encontro-virtual, e novos significados para o ato de assistir a um show. Caçar novas trocas entre artista e plateia. 

Também queria, e quero, que todos que sintam vontade de cantar/ dançar/ compor/ exercer seu direito à fantasia, na vida, possam sentir que basta começar!

Vinha pensando, também, que um show não deve ser somente sobre “prestigiar o artista”. 

Até porque sei que a luta contra a arte, hoje tão intensa quanto ridícula, quer que acreditemos que investir em cultura é “bobagem”, pois significa só “favorecer os artistas”. 

Acontece que o artista trabalha em função da sociedade. 

Acontece que as pessoas têm direito à cultura. É patrimônio nosso.

E os políticos no poder, pagos para garantir esse direito, têm beneficiado apenas a eles mesmos, além de minar nosso acesso à cultura e atacar o direito que eles são pagos para garantir.

Cantar Gonzaguinha, nas aulas-espetáculo, também não significa apenas homenagear um grande compositor. Não significa apenas cantar canções bonitas. Não há mais sentido em fazer arte assim nesse país.

Gonzaguinha foi um artista engajado, politizado e consciente. Em todos os seus discos está a luta por dignidade. Em todos os seus discos está a denúncia ao moralismo e à hipocrisia. Em todos os seus discos está o clamor por igualdade, justiça social, liberdade.

Sua obra foi escolhida, nestes tempos assombrosos, não à toa.

As aulas-espetáculo foram sonhadas por mim como um respiro, e um manifesto, e uma nova ponte entre nós, e um convite para seguir sonhos, e uma ode à luta interna que a arte traz, e uma dose de afeto para sentirmos alegria, e um caminho de resistência pela criatividade, e um gole de liberdade.

Por isso o agradecimento é enorme a vocês!

Ter vocês na plateia, virtual mas vívida, emocionada e curiosa, nos trouxe fôlego em tempos de desânimo.

Sei que posso dizer pelo Norberto, que também reverencia a obra de Gonzaguinha por sua luta lúcida.

É feliz compartilhar com vocês os bastidores. É feliz compartilhar que a arte é para todos, e que ela tem mais a ver com descobrir do que mostrar. E que todos os artistas têm inseguranças e aflições.

Obrigada por nos tornarem mais corajosos. Para que não possam calar nenhum de nós!

E, mais do que nunca, Fora Bolsonaro, sua corja, Mario Frias e imbecis afins.

Até as próximas aulas-espetáculo!

Afeto e luta!

Projeto Primo, meu amor

(Novo single vem ao mundo sexta!)

Nosso encontro na música começou num fim de ano na vovó:

Eles tinham feito uma canção inteira e não conseguiam botar letra numa frase. Só faltava isso. Aceitei tentar letrar em troca de entrar na parceria. Assim nasceu a canção De Repente, que amo, que gravei no disco lindo do Paulinho com ele.

Daí vieram novas parcerias nós três, e novas canções entre nós, e três coisas me deixaram extremamente feliz quando decidimos criar o Projeto Primo:

A primeira, voltar a compor com meu irmão, Lucas Caram, meu primeiro parceiro musical na vida (desde que fazíamos dueto anotando as letras do filme do Aladdin numa agenda do meu pai, para ler cantando, juntos), pessoa sem a qual talvez eu nem mesmo tivesse virado compositora.

A segunda, compor mais com o Paulo, um dos maiores compositores que já conheci e que já gravei. As canções dele são positivas, solares, humanas, tudo que eu gosto numa canção e quero nas minhas composições.

A terceira, ter um projeto paralelo no qual eu pudesse (e fosse obrigada) a me aventurar mais como instrumentista. Tocar piano, tocar Acordeon, estudar aberturas de vozes. Sem um trabalho que me levasse a isso, a sanfona, com seus dez quilos e milhares de complexidades, talvez já tivesse sido deixada de lado.

E é engraçado, tenho claramente um lado artista teatral, que quer a potência e exagero do palco, mas tenho um lado discreto e calado, que só quer ficar tocando num cantinho, curtindo o som que o instrumento faz soar. E o Projeto Primo me dá a chance de ser discreta e nem sempre tomar a frente.

Também me faz sentir em casa no palco de um jeito diferente. Ainda mais tranquilo.

Fazer parte deste trio me permite crescer como músico e compositora, e me faz curiosa e serena. Como se eu voltasse sempre ao ponto primordial onde a arte me pegou e convidou a ser amiga para sempre.

Tocar no Projeto Primo é como se no palco e na canção fosse sempre noite de natal.

Retrato da vida da escritora

Aprendi a ler em casa com minha mãe. Eu implorei pra ela me ensinar nas férias, antes de a escola ensinar. Isso porque, admito que eu queria me exibir, me amostrar como a primeira alfabetizada da turma. Todavia, nem eu sabia que estava entrando em contato com uma paixão.

Em outras palavras, eu já amava livros, mesmo antes de ler. Amava ir à biblioteca da escola ler tudo da Eva Furnari com sua Bruxa Onilda.

Depois virei a pessoa mais viciada em gibis da Turma da Mônica que existiu. Não podia ver um gibi novo nem de longe, que parava a conversa e a brincadeira, e só retomava depois de ler. A gente assinava os gibis da turma e saíamos no tapa, eu e o Lucas Caram, para ver quem pegava o da Mônica primeiro. Assim, o perdedor pegava o do Cebolinha, e os outros dois já estavam combinados: o da Magali era meu e do Cascão do meu irmão. Por isso, podemos dizer que @mauricioaraujosousa formou nosso caráter.

Nasce uma compositora

Anos depois, mergulhei nos livros e passei a compor e a escrever, especialmente na adolescência. Nesse sentido, fiz músicas para minhas amigas e comecei com meu caderninho de poesia.

Na faculdade (sou formada em música pela Unesp) deitei e rolei na biblioteca, consegui zerar minha leitura em Guimarães Rosa e lia o tempo todo no pátio, com o barulho que fosse. Meus amigos brincavam que aos 40 anos teria lido tudo que existe. Porém, a verdade foi que de lá pra cá li menos. Triste verdade.
Fato é que tenho o maior orgulho do universo de ter me tornado compositora assumida (muuuuitos anos depois, a coragem só veio em 2015) e de ter lançado (quem diria!) já dois livros de poesia.

Sobretudo, quero envelhecer escrevendo cada vez mais. Amo a imagem do artista anônimo, escrevendo quieto, em qualquer lugar, e mudando o mundo com suas palavras espalhadas sem depender de sua presença.
Taí, uma parte de mim é amostrada, a outra é fã do silêncio e da solidão. Sempre foi assim.
Retrato da minha vida, eu disse.

Obrigada a cada um de vocês que já ouviu ou leu as palavras que me revolucionaram.
Todos os livros e discos estão disponíveis na lojinha aqui do site.
E que a gente não se perca nunca da criança que a gente foi.

Coração agradecido!

Amades, só preciso fortemente agradecer. Porque não é fácil criar um projeto novo de Afeto e Luta.
As ideias sim, vão e vêm, e num ano tão imprevisível como este, em que a arte foi muitas vezes nosso ponto de segurança emocional, nossa boia para não afundar, deu vontade de cantar e tocar tudo o que pudesse existir que parecesse dar o mínimo de conforto, a todas as pessoas.
Desde já, digo que o encontro com a obra de Gonzaguinha foi por acaso. Na minha sequência de lives de cura, em julho, no Youtube, pensei fazer alguns especiais com compositores que me fazem sarar. Então, logo pensei Paulinho da Viola (minha terapia) e o moleque Gonzaguinha (meu abridor-de-coração).

Canções que aquecem o coração

Eu, quando era adolescente, tinha um CD de escutar na estrada, que eu mesma gravei com canções variadas, e ele me fazia esquecer de todos os problemas e sorrir sozinha ouvindo meu discman (sim, sou dessa época). Logo a primeira canção era Corrida de Jangada, de Têtes Raides e Capinam, na voz da Elis Regina, que eu colocava assim que a viagem começava (“Meu mestre deu a partida, é hora, vamos embora, nas ondas do litoral vamos embora!”).

A segunda ou terceira era Eu Nem Ligo. Porque aquele Gonzaguinha que não esquentava a cabeça e ia com força nas coisas que devia fazer era meu mestre. E ainda é.

Quando pensei em criar um show e gravar um disco, primeiro me perguntei se havia repertório suficiente dentro do meu conhecimento. Então comecei a fazer a lista e não parava mais!

Assim, ouvi Com a Perna No Mundo, só para checar se eu sabia a letra, e não sabia: fui cantar no quarto estudando e chorei e chorei. “Diz lá pra Dina que eu volto!”. Essa ode de amor à sua madrinha, quase mãe, pois a Dina foi quem criou nosso artista, quebrou meu coração de mãe novinha.
Meu bebê estava com 8 meses, e eu tendo que estudar quando ele dormia, à noite, já exausta, depois de amamentar e jantar (dá mais sono do que nadar o dia inteiro!). No entanto, Gonzaguinha nunca me cansou. Só devolvia o fôlego.
Assim, foram inesquecíveis passeios com o meu cão Lampião à noite ouvindo aquelas canções. Do mesmo modo, foram inesquecíveis passeios sozinha estudando esse repertório.

Afeto e Luta

Afeto e Luta nasceu finalmente, de parto normal sem desespero, sexta passada, dia 4 de dezembro, com um time dos sonhos me apoiando. E com a ajuda de vocês.
Dessa forma, já quero agradecer a todos os admiradores do meu trabalho que colaboraram com a campanha de financiamento coletivo:
Valnei Santos
José Roberto Jr
Larissa Caldin
Lara Kadocsa
Gerlany Dias
Maura Matiuzzi
Carol Venciguerra
José Donizetti Jr
André Luiz
Tereniak
Claudio Queiroz
Joao Garrido
Wagner Oliveira Braga
Diana Pio Monteiro
Glauco Lima
Arquimedes Diniz
André Tereniak

Graças a vocês o disco já será mais fantástico do que eu conseguiria sozinha! Afeto e Luta para todos sempre! Até que só sobre afeto!
Em breve, mais causos sobre a produção desse álbum, de direito à fantasia e melhorar a realidade.

Como a maternidade me fez forte

O parto foi difícil e eu esperava mais fácil. Por outro lado, amamentar foi incrivelmente fácil e eu esperava extremamente difícil, até impossível. Assim começava a minha maternidade.

A noite foi incrível e eu esperava tumultuada. Já a recuperação do corpo é complexa e lenta e eu esperava simples e rápida.
A ausência da barriga imensa é uma das maiores alegrias da minha vida, e eu esperava saudade. Também o puerpério começou doce e grato, e cheio de lágrimas, e eu esperava as lágrimas, mas as que imaginei seriam de desespero, não de felicidade.
Nesse sentido, dei um mergulho em mim. Um olhar para quem fiz e me ver recém-nascida, e olhar para mim e me ver mais forte do que me imaginava, e olhar para ele e ver quem ainda não conheço mas já é um companheiro.
As regras que me ensinaram, notar que não sei executá-las. Que algumas não funcionam para mim. Que algumas pareciam difíceis e foram fáceis. Avessos, conflitos, refúgios, afetos.
Tudo isso é imensidão desconhecida impressionante que imaginei ser a maternidade.

Da gravidez à festa do nascimento

Aprendi que hoje é festa de nascimento, e tomei fôlego para contar, 9 dias depois, do único nascimento que assisti (e de que fiz parte), que (já) mudou a minha vida para melhor – e para sempre.
A data prevista de parto do Francisco era 23 de dezembro, e eu sonhava que ele viesse antes do Natal. Por isso, pedia para que ele viesse antes.

A princípio, me preparei a gravidez toda para um parto normal. Fiz exercício, trabalhei, fiz fisioterapia pélvica, epi-no, meu marido aprendeu massagens para aliviar contrações, enfim, tive uma gestação quase impecável.
Porém, a gente não controla nada, e dia 16 de dezembro, depois de uma manhã normal, comecei a passar muito mal depois do almoço. Não me alarmei. Mas em uma hora a dor já estava nível máximo, com pausas minúsculas, e meu marido veio pra casa voando pra me encontrar chorando e gemendo deitada debaixo do chuveiro.

Assim, 1 hora depois, a bolsa estourou, mas sem alegria: a água da bolsa tinha uma coloração que eu sabia que podia significar sofrimento fetal. Por isso fomos para o hospital, com contrações de dois em dois minutos, mas respirando e cantando a playlist do nascimento.

Nasceu Francisco!

Quando chegamos, enfim, foi constatado que o neném estava bem e podíamos tentar ainda parto normal. Nesse interim, a única hora que passamos na sala de parto humanizado foi das mais bonitas (e dolorosas) da minha vida. Cada música que tocava, novo fôlego.

Mas veio a notícia: o neném não ia aguentar aguardar, tínhamos que fazer cesariana. Imediatamente topei, feliz, porque a dor ia passar, e a vida do meu filho estaria salva.

Tivemos uma cesariana linda, ouvindo a canção que meu irmão @lucascaram fez pro Francisco, e recebi no cangote o neném assim que ele veio ao mundo, aquela coisa gosmenta e gostosa, que me fez chorar tudo que não chorei uma vida inteira.
Há mulheres que têm partos normais lindos. Há mulheres que agendam cesariana. Há mulheres como eu, que querem uma coisa e fazem o necessário na hora. Portanto, eu alertaria para o fato de que a recuperação da cesariana é dolorosa, longe da praticidade que se imagina.

Passar pelo trabalho de parto é bom. Mas não acho que nenhuma mulher deva sentir culpa. Nem medo. Tenho orgulho do que fiz. Há vida tão além do parto! E toda nova vida é orgulho. 💙